O segredo do sucesso!
COMO GISELE BÜNDCHEN CONSTRUIU SUA FORTUNA E SE TORNOU A MODELO MAIS BEM PAGA DO MUNDO.
Para quem acha que basta ter sorte e uma boa família para ter sucesso na vida, saiba que é preciso um pouco mais do que isso.
A revista Época Negócios traz uma matéria sobre o sucesso de Gisele Bündchen. Mostrando que o segredo é: dedicação + disciplina + humildade + vontade de ter sucesso + foco + carisma e algumas coisinhas mais que a fazem ser A Gisele Bündchen.
Então vamos ser práticos, se você quer ter sucesso, comece avaliando o quanto você se dedica a isso diariamente.
Vinte anos de carreira para uma modelo, via de regra, é o fim da linha. Não há viço, ou charme, que resista tanto tempo aos milhões de olhares críticos voltados para as passarelas. Em grande parte, é por isso que a trajetória da gaúcha Gisele Bündchen surpreende. Ela desfilou pela primeira vez aos 14 anos. Hoje, aos 34, está no auge. No mês passado, a guria, que na adolescência cogitara ser jogadora de vôlei, assinou o maior contrato de sua vida. Será uma das embaixadoras globais da marca Under Armour, a fabricante americana de materiais esportivos. O valor do negócio é alvo de controvérsias, mas foi estimado em US$ 250 milhões, uma cifra astronômica, mesmo para os padrões de remuneração das beldades internacionais (leia os detalhes mais abaixo). O acordo – e esse é um detalhe estonteante – tem duração de dez anos. Extingue-se quando ela completar 44 anos. (Cabe aqui, portanto, uma emenda: Gisele não chegou ao topo. Ela ainda está, acredite, em franca ascensão.)
Por trás dessa longevidade intrigante, e rentável, estão as singularidades do líder da “Gisele S.A.” – neste caso, ela mesma, Gisele Caroline Nonnenmacher Bündchen. A marca pode flutuar em torno de atributos fugazes – a beleza, o carisma e a sedução –, mas o negócio está calcado em princípios bem perenes da boa gestão. A modelo é uma craque em quesitos como disciplina, planejamento, controle de imagem, definição de metas e geração de valor (para ela e para as companhias com as quais trabalha). Isso sem falar no oportunismo, que lhe parece inato. Gisele, na verdade, não é apenas uma modelo, é uma executiva. Não apenas uma executiva, é uma empreendedora.
Desde sempre foi assim. Em uma das raríssimas ocasiões em que falou sobre o tema negócios, deixou cristalinos os seus alvos. Disse Gisele, em 2004, à revista americana Vanity Fair: “Jamais quero ser uma daquelas meninas que, aos 30 anos, tudo o que sabem fazer é desfilar. Quero olhar para trás e ver que fiz o melhor entre os meus 14 e 26 anos. Mas, depois disso, iniciei um novo capítulo. Há pessoas que desfilam para ir a festas e para ganhar notoriedade. E há pessoas como eu. Vim de uma família simples. Ser modelo, para mim, é uma chance de ganhar dinheiro e criar negócios”. Haja clareza de objetivos.
Busca de resultados
Gisele, para atingir suas metas, vale-se da sua disciplina. É dona de uma capacidade célebre de se envolver com as marcas com as quais trabalha. Essa postura chamou a atenção da americana Leanne Fremar, vice-presidente de criação da Under Armour. “Para termos as imagens necessárias à campanha, que incluíam exercícios físicos pesados, ela suou a camisa por muitas horas”, diz Leanne. “Não reclamou de nada, nem mesmo do calor que fazia em Nova York.” O comercial foi gravado em julho, quando as temperaturas na cidade têm o hábito de superar 40 graus. “Gisele parece que busca os melhores resultados em tudo o que faz”, afirma a executiva. “Fiquei realmente impressionada.”
Os filmes da Under Armour exploram uma espécie de “dissonância imagética”, como uma nota esquisita, que realça o interesse por um acorde. Nas cenas, Gisele treina boxe. Simultaneamente, são exibidos comentários dos internautas, às vezes ironizando a participação da modelo bonitinha, naquela pancadaria regada a suor. Essa é a brincadeira. “Queríamos mostrar às consumidoras, predominantemente mulheres de 15 a 35 anos, que não há limites para quem se dedica a algo com empenho”, diz Leanne. Gisele, para tanto, não poderia ser mais adequada. Isso embora seja a única mulher da campanha que não tem na força física a base de sua atuação profissional. O restante do elenco feminino da Under Armour é formado por Misty Copeland, solista do American Ballet Theatre, Lindsey Vonn, campeã mundial de esqui, e Kelley O’Hara, destaque da seleção feminina de futebol americano, além da tenista Sloane Stephens.
Bom para todos
Os resultados gerados por Gisele também atraíram a Under Armour – e são compatíveis com o seu empenho. Em 2 de setembro, quando foi anunciado o contrato com a brasileira, as ações da companhia americana registraram alta de 4%, o equivalente a uma valorização de US$ 590 milhões. Também foi assim em outras ocasiões. As campanhas da C&A com a participação da modelo, entre 2001 e 2005, levaram a um aumento de 30% nas vendas. A Pantene, a principal marca global da P&G para cabelos, teve, por muitos anos, atuação incipiente no Brasil. Em 2007, acionou Gisele Bündchen. À época, a marca detinha 1,5% do mercado nacional, concorrendo com Dove (Unilever) e Elseve (L’Oréal). De lá para cá, a Pantene tornou-se líder em farmácias e hipermercados e abocanhou 11,4% das vendas de produtos para cabelo no Brasil.
Evidente que o bom resultado dessas campanhas não se limita ao efeito Gisele. Quando uma empresa decide contratá-la, é porque está fazendo um baita investimento em marketing – e, provavelmente, em qualidade, inovação, distribuição… Assim, ativa uma miríade de ferramentas para conquistar a clientela. Nada disso tira o brilho da modelo (até porque, quando ela se envolve em algum projeto, estuda muito o produto para ver se ele está “à altura” de associar-se à sua imagem). “Gisele realizou, em poucos meses, o trabalho de fortalecimento da marca que levaríamos uma década para executar sem ela”, diz Ralph Choate, ex-diretor de marketing da C&A. “Mesmo que me dessem um caminhão de dinheiro, eu não conseguiria o mesmo resultado sem ela.”
Choate bem que tentou. Em 2005, ao final do contrato, ele afirma que passou três meses sem dormir direito, quebrando a cabeça para encontrar uma substituta à altura. “Não encontrei”, diz. A solução foi mudar a percepção do público. “Em vez de uma mulher brasileira, fui buscar um cantor estrangeiro: o Ricky Martin.” Embora o executivo afirme que o trabalho gerou o resultado esperado, analistas de mercado têm lá suas dúvidas. Se a modelo traz um impacto positivo quando chega, pode provocar o inverso proporcional quando sai. Algumas marcas passam por uma espécie de depressão pós-Gisele.
Controle de tudo
Engana-se, portanto, quem acredita que a beleza é o ingrediente primordial do sucesso da modelo. A estética, de fato, é seu produto. As ferramentas com as quais ela a manipula é que fazem a diferença. Nesse caso, encaixam-se o
profissionalismo e o engajamento. Tais qualidades parecem requisitos banais. No nível de Gisele, não são – nem mesmo em empresas de ponta, em indústrias ultracompetitivas. No ambiente da moda, então, essa combinação soa como uma anomalia. Ali, predominam – ou predominavam, até que Gisele desse o exemplo de uma nova postura – o estrelismo e a falta de comprometimento. Com a modelo, é diferente. Um exemplo: desde o começo da carreira, ela define em contrato o horário de início e fim dos trabalhos, reservando uma hora de almoço. “Deu a hora, ela larga a caneta”, dizem os fotógrafos. Depois dela, passou a ser regra entre celebridades determinar o período de trabalho em contrato. Gisele é, ao mesmo tempo, a matéria-prima e o ourives que a transforma; a engenheira e a arquiteta de seu edifício (no caso, de seu arranha-céu).
O controle exercido pela modelo não se restringe ao tempo. Avança sobre a mensagem. “Ela tem um domínio impressionante de si mesma”, afirma o fotógrafo Bob Wolfenson, que a acompanha desde o início da carreira. “No dia a dia, tem um jeito mais de menina, brincalhona. Mas na hora de fazer as fotos, fica sensual, sabe se posicionar para reforçar uma ou outra parte do corpo.” Ele conta que, certa vez, durante um ensaio, sugeriu que Gisele forjasse algumas lágrimas. “Você quer que eu chore?”, ela perguntou. “E chorou. Copiosamente”, diz ele.
Cuidados com a exposição
De tão atenta ao produto que vende, Gisele aprendeu os segredos da iluminação. Muitas vezes, dá um toque final na própria maquiagem antes de filmar, o que lhe garante mais eficiência na produção de imagens. Ela conhece ainda as peculiaridades dos diferentes modelos de câmera. Na era analógica, quando as máquinas fotográficas ainda usavam filmes, ela dava um show à parte, como um jogador de futebol que se exibe ao abusar das embaixadinhas. Enquanto o fotógrafo clicava, a modelo contava o número de poses feitas. Quando faltava uma, dizia: “Você tem só mais uma foto”.
Gisele é uma gestora cuidadosa, mas centralizadora. Seu zelo pela imagem é total. Aprova todas as fotos de campanhas publicitárias e editoriais antes de ser publicadas. Assim que acabam os ensaios, pede que o fotógrafo apague, na sua frente, as imagens das quais não gostou. Em seguida, quer ter certeza que as cenas barradas serão excluídas da lixeira do computador. Antes de se atrelar a uma marca verifica ainda se a empresa atua de forma ambiental e socialmente correta. Ela pede também para ver relatórios sobre a percepção do consumidor em relação ao produto que vai anunciar.
Não há em seu comportamento, porém, resquício do estrelismo das divas. Gisele não faz exigências alucinadas. Não chega sequer a exigir os profissionais com os quais vai trabalhar. Mas, conforme ascendeu na carreira, priorizou alguns nomes – tomando sempre o cuidado de variar as escolhas. Parece evitar que alguém se proclame “o cabeleireiro da Gisele” ou “o maquiador da Gisele.” Quando fecha uma campanha, envia uma lista com seus nomes preferidos e deixa a decisão final para o cliente. Uma de suas poucas exigências no set? Água de coco. A outra é o Café. Não a bebida, mas o segurança (esse é seu apelido). A modelo o considera afável, uma garantia de que não terá problemas de imagem provocados por alguma truculência no trato com os fãs.
Adapte-se, camaleoa
A versatilidade é outra marca de Gisele. Ela mantém, no momento, pelo menos dez contratos simultâneos: Sky, P&G (para Pantene e Oral-B 3D White), Colcci, Chanel, Louis Vuitton, Falabella (grupo chileno de loja de departamentos), Under Armour e a grife italiana Emilio Pucci, além de Hope e Grendene (licenciamento). Embora as marcas foquem públicos diferentes, ela desfila bem entre as diferentes passarelas. Sua imagem serviu tanto à popular C&A como à exclusiva Balenciaga, marca de bolsas vendidas a R$ 4 mil (cada). Suas pernas longilíneas agora recheiam os jeans básicos da Colcci e, por outro lado, a sua elegância faz jus ao filme do final deste ano de Chanel nº 5, o clássico entre os perfumes.
“Gisele é um camaleão”, diz Olivier Rose van Doorne, presidente da SelectNY, agência dos Estados Unidos, especializada em avaliar a relação entre as marcas de luxo e as celebridades. “Há, hoje, duas modelos com esse perfil: ela e Kate Moss.” Ainda assim, Kate tem restrições para atuar no mercado americano, por conta do seu histórico com drogas e baladas.
Parte da versatilidade da modelo tem a ver com seu carisma e a forma espontânea, até moleca, porém muito focada no trabalho, com que cativa os clientes. Foi assim que surgiu o conceito da propaganda da C&A, em 2001. Enquanto Gisele fazia as unhas e arrumava o cabelo para uma sessão de fotos, uma equipe gravava o making of da produção. Perguntaram-lhe como havia sido o início da sua carreira. Ao que ela respondeu: “Eu chegava à agência sempre com umas blusinhas novas e todo mundo queria saber onde eu tinha comprado. Eu dizia: na C&A!”. Pronto. Minutos depois, a ideia central da campanha – que seria comparar a vida de jogadores de futebol à de modelos – havia mudado. O material que foi ao ar trazia depoimentos de Gisele sobre a marca.
Outro exemplo: no início de carreira, Gisele disputava com outra novata um contrato de um cliente. O teste consistia em fazer uma prova de roupas. A primeira modelo chegou e parou de frente para os avaliadores. Virou. Parou de costas. Saiu. Então, surgiu Gisele na passarela. Ela se movimentava de forma despojada e tagarelava sem parar. “Gente, eu adorei essa calça! Vocês não sabem como é difícil encontrar alguma para o tamanho das minhas pernas!” Levou o trabalho, claro.
Empreendedorismo nos bastidores
Com o mesmo jeito de quem não quer nada, Gisele também empreende. Em 2010, a modelo fotografava para a Hope. Em um dos intervalos da sessão de fotos, virou-se para Sandra Chayo, diretora de marketing e uma das herdeiras da empresa, e comentou: “Sabe que eu tenho um sonho de ter uma linha de lingerie?”. Um ano depois, era lançada a Gisele Bündchen Intimates. Em tese, o negócio com a Hope é um licenciamento. Nesses casos, as empresas são responsáveis pela produção e distribuição dos produtos, pagando à celebridade os royalties, de 5% a 25% sobre o total das vendas. Na prática, o acordo de Gisele tem características particulares. Ele garante à modelo participação em todas as fases de desenvolvimento do produto.
Ela pode escolher os tecidos, as estampas e a modelagem das peças – e nenhuma delas chega às lojas sem sua aprovação. As reuniões são feitas por e-mail, por intermédio de Patrícia Bündchen, a irmã gêmea, responsável pela negociação dos contratos. Em seguida, Sandra envia algumas peças piloto para a avaliação de Gisele. “No início, eu até me questionava se isso fazia sentido, já que eu também sei como fazer calcinha e sutiã”, diz a executiva da Hope. “Mas Gisele, de fato, é muito perspicaz e faz comentários ótimos.”
A estrutura empresarial
Entre os Bündchen, a vocação para os negócios não surgiu por geração espontânea. Valdir Bündchen, o patriarca de ascendência alemã, criou suas seis herdeiras com ideias firmes sobre como vencer na vida. Sociólogo, pós-graduado em administração mercadológica, há 30 anos promove treinamentos sobre como planejar carreiras. É autor de quatro livros. Entre eles, Como Construir a Si Mesmo e Singular – O Poder de Ser Diferente. No momento em que Gisele foi convidada a fechar um contrato com uma agência de modelos, ele resistiu. “Ela era muito nova e eu não sabia para que tipo de malandro a estava entregando”, diz. “Foi uma decisão difícil.”
Em 1994, Gisele recebeu o convite para trabalhar com John Casablancas, dono da agência Elite e responsável por lançar top models como Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Naomi Campbell e Linda Evangelista. Mas seu Valdir só topou a proposta depois de traçar um plano de carreira para a filha, com a ajuda do empresário. Ele enviou um questionário a Casablancas, pedindo que apontasse os pontos fortes e fracos da guria. Além disso, quis orientações sobre os passos que deveriam pautar a carreira de uma modelo iniciante. Pediu ainda detalhes sobre o melhor caminho para atingir altos objetivos na carreira. Mais tarde, o agente traçou metas anuais para a evolução de Gisele.
Aos 15 anos, ela havia absorvido com primor os ensinamentos do pai e as dicas do empresário. Tinha projetos próprios e ambiciosos. Perguntou a funcionários da Elite o que teria de fazer para, em um ano, juntar dinheiro e comprar um apartamento. Nessa época, ela já controlava o seu fluxo de caixa com rigor. Anotava todas as entradas e saídas em um caderninho. E era econômica. Para não gastar com táxis, vivia em busca de caronas ou até passava por baixo das catracas de ônibus.
Nariz grande, não. Isso é excesso de personalidade
Valdir Bündchen também ajudou a filha a solucionar alguns impasses. Pode parecer brincadeira, mas, no início, a guriazinha, nascida na minúscula Horizontina (RS), cidade com 20 mil habitantes, não parecia ter um futuro tão promissor. Faltava interesse no mercado de moda pelas peculiaridades estéticas da modelo. Havia, por exemplo, o nariz. Ele era considerado um tanto crescidinho para os padrões vigentes. Em entrevistas, ela dizia: “Meu pai falou: ‘Gisele, quem tem personalidade tem nariz grande’”. Pronto. Então, para que se preocupar?
Família também é a palavra-chave para entender a estrutura empresarial da modelo. O primeiro time de executivos da “Gisele S.A.” é formado pelos parentes mais próximos. Na linha de frente estão duas das cinco irmãs: Patrícia, a gêmea, com diploma de relações públicas, e Gabriela, advogada, responsável pelos contratos. Rafaela, a caçula, é quem cuida do Instagram e tem participado de algumas reuniões com a imprensa. O único corpo estranho no staff é o de Anne Nelson, que trabalha com a modelo por meio da agência IMG. É a responsável pelos contratos internacionais.
As meninas Bündchen, garantem os interlocutores, preservam um jeito doce de gurias do interior. Quem trata de negócios com elas considera intrigante o fato de as moças cuidarem, sozinhas, de acordos com valores milionários. Patrícia é quem toma as rédeas nas discussões. Não raro, é a mais durona. Ela também, normalmente, acompanha Gisele na gravação de comerciais. Só ela, observe-se. Muitas celebridades costumam carregar a tiracolo séquitos com até 50 pessoas nessas ocasiões. É curioso, mas o clã Bündchen opera uma “microempresa” com abrangência multinacional. É uma multimicroempresa. Governança? Também tem: quem decide, no fim das contas, é Gisele, embora não se furte a ouvir opiniões sobre os rumos de seus empreendimentos.
As finanças, a sete chaves
Por ter uma estrutura familiar, é difícil estimar o faturamento ou o valor da marca Gisele Bündchen. Nos últimos 12 meses, a modelo amealhou US$ 47 milhões, de acordo com a revista americana Forbes. Isso é quase seis vezes mais do que as segundas colocadas no ranking: a holandesa Doutzen Kroes e outra brasileira, Adriana Lima. Cada uma delas faturou US$ 8 milhões. Desde 2001, época em que já havia se destacado no mundo da moda, estima-se que Gisele tenha acumulado US$ 427 milhões, em valores atualizados.
O americano Fred Fuld, dono do Stockerblog, um blog focado no mercado de ações dos Estados Unidos, acompanha a carreira da brasileira há sete anos. Dá especial atenção ao desempenho dos papéis das empresas com as quais ela trabalha. Fuld criou até o Gisele Stock Index. De 2007 até o fim do último semestre, anota Fuld, o investidor que tivesse apostado nas companhias do índice da modelo teria embolsado ganhos de 105% – ante 36,9% do Dow Jones. “Se ela fosse uma empresa”, afirma o blogueiro, “valeria perto de US$ 600 milhões”.
O tema finanças é tabu no clã Bündchen. Patrícia, a gêmea e braço direito de Gisele, contesta os valores divulgados das campanhas publicitárias, assim como as avaliações financeiras sobre a marca. Ela, por exemplo, negou a NEGÓCIOS o montante do contrato com a Under Armour (“Os números são meras suposições e a divulgação dessas informações equivocadas acaba adquirindo um status de verdade pela reprodução em massa”, escreveu, na mesma mensagem em que negou dar entrevista para “não compactuar com matérias que tenham o objetivo de falar de números, pois eles não são reais”.) A empresa americana, por sua vez, não comenta o assunto. Contudo, fontes próximas à companhia ouvidas pela reportagem confirmaram o valor de US$ 250 milhões, próximo ao anunciado pela Forbes.
Não é uma cifra estapafúrdia, considerando a duração do contrato (uma década) e o impacto positivo que o seu mero anúncio teve sobre a marca (US$ 590 milhões, mais que o dobro). Coloca-a em um patamar, digamos, über (termo alemão que significa “acima, além”), para citar o sufixo que ela inaugurou antes da palavra modelo. Uma quantia pouco maior teria sido oferecida pela Under Armour ao jogador de basquete Kevin Durant. Ele declinou. Preferiu renovar com a concorrente, a Nike. Outras celebridades costuram contratos com valores muito maiores. Michael Jordan, outro astro do basquete, tem um contrato vitalício com a Nike. Somente no ano passado, o acordo lhe rendeu perto de US$ 60 milhões.
Uma ajudinha de Bill Clinton
É claro que uma carreira tão bem-sucedida não se constrói somente com uma visão acurada para negócios. A sorte também conta, e muito. Em 1998, ela teve sorte. A modelo participou naquele ano do desfile do estilista britânico Alexander McQueen. A plateia acomodava Anna Wintour, a editora da Vogue América, retratada no filme O Diabo Veste Prada (no qual, aliás, Gisele fez uma pontinha). Assim que a brasileira pisou na passarela, Anna cutucou sua assistente: “É essa a menina”. No ano seguinte, Gisele estampava a capa da Vogue americana, principal revista de moda do mundo, acompanhada da manchete: The Return of the Sexy Model (“O retorno da modelo sexy”). A foto trazia Gisele em um cenário campestre. Foi um marco.
Anna buscava havia tempos uma modelo como a brasileira. No fim da década de 90, reinavam nos editoriais de moda os ensaios com um ar grunge, soturno, um visual batizado de “heroin chic”, no qual se destacavam olhos fundos e rostos angulados. A principal referência daquele período era Kate Moss. Preocupado com a difusão dessa imagem entre os jovens americanos, Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, apelou aos editores de moda para que investissem em novas mulheres. Ele queria gente capaz de inspirar as pessoas a seguir hábitos saudáveis. E Gisele estava bem ali.
Logo, ela fechou contrato com a Victoria’s Secret e tornou-se uma das angels da marca. “Gisele foi um estouro porque representa aquilo que o americano médio considera bonito”, diz Olivier Rose van Doorne, da SelectNY. “Ela é sexy, mas ao mesmo tempo saudável e séria. Atende às regras conservadoras da nossa sociedade.” Para Van Doorne, hoje, Gisele Bündchen e seu marido, o jogador de futebol americano Tom Brady, só perdem em admiração nos Estados Unidos para o casal Angelina Jolie e Brad Pitt. Em faturamento, porém, Gisele e Brady superam os astros do cinema, segundo a Forbes.
Dissabores? Também
O caminho de sucesso incluiu, como costuma acontecer, rixas, inclusive bastante ácidas – como aquela com a agência de modelos Elite, de John Casablancas, o empresário que havia trabalhado com Gisele nos primeiros anos de carreira. Em 1999, ela o trocou pela IMG, agência que se tornaria a maior do mundo em gestão de celebridades, com clientes como o golfista Tiger Woods, o piloto Michael Schumacher e o jogador de futebol americano Joe Montana, considerado o melhor de todos os tempos. Casablancas sentiu-se traído e bradou isso aos quatro ventos – e em sua autobiografia Vida Modelo. “Em uma carreira na qual eu conhecera a traição em todas as suas formas, a de Gisele foi especialmente fria e egoísta”, escreveu.
Casablancas afirmou que Gisele proibiu judicialmente a agente Liliana Gomes de citar, em seu release profissional, o fato de ele estar presente no dia em que ela foi “descoberta”. “Gisele não suporta que ninguém possa ganhar algum dinheiro mencionando o seu nome, mesmo que seja apenas contando um fato real”, anotou. O empresário morreu no ano passado, vítima de câncer, no dia do aniversário de Gisele: 20 de julho.
Essa, porém, foi uma das raras queixas contra Gisele que vieram à tona em duas décadas de trabalho. Em geral, a relação entre a modelo e os colegas é boa. No set de fotos, vale a descontração. Na rua, a discrição. Ela não é vista na madrugada abraçada a fotógrafos famosos, como muitas modelos. Gisele raramente fica em festas por mais de 20 minutos. E não adia trabalhos por causa de eventos.
Este ano, o fotógrafo Mario Testino, nomão do ramo, pediu que ela fosse à abertura de sua nova exposição. Com delicadeza, Gisele disse não a uma das maiores referências da moda mundial. Ela iria gravar uma campanha no mesmo horário. Em compensação, foi jantar com Testino no Emiliano, em São Paulo, na noite anterior. No dia seguinte, de surpresa, passou na exposição antes da abertura oficial e tirou fotos, depois postadas nas redes sociais. Não desmarcou o compromisso com o cliente, nem deixou descontente seu amigo (e colega valioso). Tudo feito de maneira delicada, equilibrada.
A imagem perfeita
Atitudes desse tipo ajudam a construir uma imagem de Gisele Bündchen que foge, ao menos no campo da comunicação, ao primeiro círculo do sucesso, ocupado pelas celebridades banais. A modelo parece ter alcançado um nível acima – o reservado aos mitos. Atributos não lhe faltam para tanto. É exuberante, rica, simpática (sempre que se aproxima de um desconhecido em uma reunião, antecipa-se e diz: “Prazer, sou Gisele”), moderna, inteligente e articulada (em quatro idiomas), “sustentável” (seus dois filhos, Benjamin, de 4 anos, e Vivian Lake, de 1 ano, nasceram de parto natural, em casa). Além do mais, raramente come carne e evita que as crianças consumam lactose. Pratica diversos esportes, como ioga, kung fu, surfe, cavalgada e boxe. Também é adepta de meditação.
Vive entre estrelas. Na vida pessoal, namorou, sem alarde, o ator Leonardo DiCaprio. Pouco depois de terminar o relacionamento, conheceu, namorou e casou com Brady, o quarterback do New England Patriots, a posição que o Superman ou o Capitão América ocupariam em uma equipe desse esporte, caso fossem atletas. “A Gisele é a princesa perfeita para que o consumidor construa a sua própria fábula”, diz o publicitário Silvio Matos, à frente da Idealista, empresa de marketing digital, especializada em gestão de marcas.
Ela dá mostras de ter noção desse poder. Nunca aceita, por exemplo, que sua imagem seja associada ao preço de um produto. Nas campanhas, ocupa o espaço do conceito, do sonho, do storytelling (o termo que virou moda). Por isso, algumas ações da modelo fazem um baita eco entre os consumidores. Tome como exemplo o tão cobiçado cabelo. Ele inspirou a criação de um corte nos salões. Mas Gisele, elegantemente, desdenha. Insiste em dizer que suas ondas capilares são de fácil imitação: basta lavar os cabelos, enrolá-los com as mãos e fazer um coque. Depois de seco, é só soltar. Nosso conselho: não tente fazer em casa. Não vai dar certo. “O mito é alguém que toca muita gente, mas que ninguém consegue tocá-lo”, afirma o psiquiatra Jorge Forbes. “Ele promete uma proximidade que não entrega.”
Um vaticínio
A sede pela conquista é outro ingrediente do sucesso de Gisele. Não é apenas o dinheiro. É a vontade de realizar coisas, mover-se, ampliar horizontes. Não poderia ser diferente. Não há executivo, líder ou empresário bem-sucedido que não seja movido por esse tipo de impulso. Neles, a ambição é natural, um acessório de série. No caso da modelo gaúcha, a primeira demonstração pública dessa peculiaridade foi precoce, ainda em 1994, no início da carreira. Na época, em São Paulo, a menina acabara de conhecer os ex-diretores da agência Elite, Liliana Gomes e Zeca de Abreu. Havia sido apresentada à dupla pelo empresário Dilson Stein, uma espécie de caçador de talentos, que viajava pelo interior do sul do país garimpando meninas jeitosas para as passarelas. Gisele, com 14 anos, disparou uma pergunta na direção de Liliana: “Eu queria ser jogadora de vôlei, mas, se eu for modelo, vou ganhar mais?”. A empresária devolveu: “Sim, muito mais”. Como se percebe, ela não deu uma resposta. Emitiu um vaticínio. Coube a Gisele Bündchen construí-lo, passo a passo, em milhares de passarelas, com suas inconfundíveis pernas longas.
CONSTRUÇÃO E GESTÃO DA MARCA
Os passos de Gisele para transformar sua imagem num ativo poderoso
1. Planejamento estratégico
Já na adolescência, Gisele tinha uma lista de seus pontos fortes e fragilidades. Também definiu aonde queria chegar e as principais ações para alcançar seus objetivos
Como fez isso: antes de fechar o primeiro contrato com uma agência, a Elite, seu pai, Valdir, preparou um questionário com perguntas sobre o potencial da filha e as perspectivas para a sua carreira. O plano posteriormente traçado seguia um roteiro comum a modelos iniciantes: primeiro, uma passagem por Tóquio para ganhar dinheiro. Depois, Nova York e Paris, onde aprenderia inglês e teria projeção mundial
2. Boa rede de relacionamentos
Desde o início da carreira, Gisele formou uma sólida rede de contatos, com pessoas do mundo da moda. Mas também deu sorte. Ela caiu no gosto de gente como Anna Wintour, a lendária editora da Vogue América
Como fez isso: cultivava amizades com modelos estrangeiras. No início da carreira, estava sempre disponível para qualquer trabalho – e, neles, cativava os clientes com o seu carisma
3. Trabalho duro e profissionalismo
Em um meio em que o padrão é atrasar horas para os compromissos, Gisele sempre foi pontual. Não é afeita a estrelismos. Ela entende o que o cliente precisa e entrega o que foi prometido – geralmente, superando as expectativas
Como faz isso: estabelece em contrato o tempo total de trabalho, com uma hora de pausa para o almoço. Não faz exigência por comidas e bebidas (com exceção de água de coco) e trata toda a equipe com educação. Durante o trabalho, não reclama de cansaço nem perde o bom humor
4. Atenção aos clientes
Gisele envolve-se com as marcas que promove. Aproveita a sua experiência para encontrar a melhor forma de exibir o que vai vender
Como faz isso: quando não testa os produtos, relembra histórias pessoais para mostrar sua experiência com a marca – e gosta de contá-las até mesmo nos bastidores. Enquanto se preparava para filmar a primeira campanha da C&A, falou, na gravação do making of, que, no início da carreira, sempre comprava peças na loja. Aos diretores da Colcci, ela disse: “Meu primeiro jeans foi da Colcci, sabiam?”
5. Equipe de confiança
Embora tenha uma ampla rede de apoio, Gisele restringiu a gestão de sua carreira a um círculo pequeno, formado por pessoas próximas. Desde 2006, as decisões sobre os negócios estão concentradas no núcleo familiar
Como faz isso: hoje, sua irmã gêmea, Patrícia, fecha as campanhas publicitárias e fala com a imprensa. Gabriela, a irmã advogada, é responsável pelos contratos. Rafaela, a caçula, cuida de seu Instagram. A única pessoa da equipe que não leva o sobrenome Bündchen é sua agente internacional, Anne Nelson, que a acompanha desde o início da carreira
6. Cuidado com a marca
Gisele tem extremo controle sobre tudo que envolve o seu nome e a sua imagem. Sua disciplina e comprometimento com o trabalho ajudam, por exemplo, a evitar eventuais problemas de uma exposição inadequada na mídia
Como faz isso: deixou de fumar e de frequentar festas – só é vista em eventos estrategicamente escolhidos. Passou a praticar mais esporte e a defender uma alimentação saudável. Gisele também aprova suas fotos que serão utilizadas em publicidade ou editoriais de moda. Ainda no estúdio, exige que os fotógrafos apaguem as de que não gostou (inclusive, da lixeira). Antes de fechar um contrato, avalia a imagem da empresa contratante e a percepção do cliente em relação ao produto que vai divulgar.
Fonte: Revista Época Negócios
0 Comments